O documentário “A Sabedoria Popular: Ato de Benzer” busca sensibilizar e chamar a atenção para uma tradição cultural e religiosa que, embora atualmente desvalorizada, permanece viva graças à fé da população do interior. Em São João do Triunfo, no Paraná, o Mapeamento Social das Benzedeiras, Parteiras e outros agentes de cura começou em 2009 e foi reconhecido com um prêmio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Este mapeamento, levantado pela Nova Cartografia Social da Amazônia, foi interrompido em 2012, mas as benzedeiras continuam a desempenhar um papel vital na vida cotidiana e na história da região.

A narrativa do documentário entrelaça a trajetória dessas benzedeiras com a história de São João do Triunfo. Desde sua fundação em 1890, a cidade foi moldada por muitas narrativas, muitas das quais foram esquecidas ou silenciadas. A “história oficial” reconhece poucos protagonistas, geralmente homens que desbravaram o território considerado “vazio” pelas autoridades da época. No entanto, essa versão ignora a presença e contribuição dos povos originários e do conhecimento popular que manteve a população viva em tempos de ausência de uma medicina formal.

A valorização do conhecimento popular, praticado por benzedeiras e curandeiros, é parte integrante da cultura local. Em uma região rural com uma rica diversidade de ervas nativas, essas práticas de cura, muitas vezes transmitidas de geração em geração, são uma mescla de influências indígenas, africanas e europeias. O documentário aborda como essas práticas foram marginalizadas pela “higienização” dos costumes promovida pelo Estado durante o processo de colonização, que favoreceu o conhecimento formal dos médicos e criminalizou as “artes de curar”.

Apesar das repressões, as benzedeiras continuaram a desempenhar um papel crucial na comunidade. Um mapeamento realizado entre 2011 e 2012 registrou mais de 160 benzedeiras em São João do Triunfo. Essas mulheres, muitas vezes analfabetas devido à desigualdade de oportunidades em relação aos homens, ocupam uma posição de mediadoras entre o enfermo e o sobrenatural. Suas casas são centros de troca de informações, conhecimentos e solidariedade.

O documentário explora como essas práticas populares de cura e religiosidade dão sentido e significado às vidas das pessoas, ligando-as ao sagrado. Benzer e curar não são apenas tradições culturais, mas atos de fé profundamente enraizados na vida cotidiana da comunidade. Através de entrevistas e relatos, “Bença!” revela a importância dessas práticas e destaca a necessidade de reconhecer e valorizar a contribuição das benzedeiras na construção da história e identidade de São João do Triunfo.